quinta-feira, 29 de março de 2012

Deserto de Ica, Peru - 29 de Março de 2012






Nos últimos dias visitei dois produtores de azeitona, um deles proprietário de um imponente lagar com uma arrojada arquitectura. Esta empresa será a "nossa" concorrência directa visto encontrar-se a vinte minutos de distância da Oasis Olives. Existem poucos lagares no Peru e todos com a característica comum de possuirem capacidades de trituração de azeitona muito reduzidas. Este lagar que visitei, propriedade da empresa Oliperu, era até há pouco tempo a unidade com maior capacidade de todo o Peru, apesar de ser de apenas 2000kg de azeitona por hora. Por agora, a maior capacidade será a que está a ser instalada pela Oasis Olives. Refiro que a maior parte da produção peruana de azeitona tem como destino a conserva e não azeite.

Passando um pouco ao lado dos detalhes da construção do lagar que visitei, que realmente são impressionantes, apesar de carecerem de sentido para uma unidade agro alimentar, considero que está muito bem equipada, relativamente a equipamentos de extracção. A higiene é perfeita, os equipamentos são de tecnologia recente e sobretudo capazes de permitir a obtenção de azeites de alta qualidade. Tal como noutros países novos produtores que tive a oportunidade de visitar, as boas prácticas estão sempre presentes. O maior cuidado verifica-se ao nível das temperaturas e da maturação da azeitona, embora neste último caso, realizem inspecções meramente académicas e desprovidas de grande interesse prático, tais como verificar o indice de maturação de cada entrega de azeitona. Estamos a falar de ter uma pessoa mais de meia hora a agrupar azeitonas por côr, fazer contagens, cortes, médias... Pura perca de tempo, pois nem sempre se encontrará uma co-relação de ano para ano. O lagar está climatizado na sala de depósitos e também de extracção, mantendo a temperatura ambiente a vinte graus.
Tive a oportunidade de provar alguns azeites novos, momento pelo qual já ansiava há alguns dias. Refiro que por enquanto, o azeite que temos comido, é comprado na prateleira, sendo de origem europeia. Na realidade, no supermercado não há grande variedade na oferta, apenas lideres de mercado. Normalmente, ao nível sensorial, o virgem extra é virgem e o virgem é nitídamente lampante. Entristece-me a péssima qualidade destes azeites, nitidamente defeituosos que deixam a clara noção que quando sairam da origem já não estariam em boas condições. Resta-me apenas a satisfação de nenhum deles ser português. No lagar, pude provar algumas variedades: arbequina, picual e barnea. A primeira era extremamente plana, sem qualquer interesse, a barnea muito amarga e com um frutado algo desagradável. A picual foi uma surpresa comparativamente com os outros azeites, estando a um nível muito bom, complexo, frutado verde médio, muito agradável. O rendimento industrial oscila entre 13% e 17%. No final claro, renovámos o stock de azeite com as ofertas da concorrência, levando azeite novo para casa... Foi muito agradável sentir os aromas de azeitona verde e fresca no lagar, espero agora nos próximos dias podermos iniciar a laboração, visto o lagar da Oasis Olives estar quase pronto.

Visitei o segundo produtor em Samaca, que se localiza no sul de Ica. Para lá chegar temos de percorrer 70 km no deserto, agora sem areia, com outro tipo de paisagem mais rochosa. A viagem implica muitos saltos, atravessando o deserto, por vezes em terreno muito acidentado. As cores da paisagem são várias, claras, escuras, avermelhadas, aqui e ali salpicadas pelo verde junto ao rio. Muito imponente e bonita. É uma pequena exploração, com 20 hectares de olival, sendo o mais curioso o facto de estar junto a antigas ruinas da civilização pré Inca, a Nazca. Encontram-se artefactos espalhados por toda a propriedade, que pertence a um filósofo peruano. O olival é explorado pelo filho, que vive esta actividade com enorme paixão. Acaba por ter os mesmos problemas que todos os produtores desta região, que passam acima de tudo por falta de floração na maior parte das variedades e por consequência, baixas produções. Tal como já referi, atribui-se as causas á falta de horas de frio, situação que inibirá a indução floral.

Neste momento, em função daquilo que vi e ouvi, não me restam muitas dúvidas de que algumas variedades não têm qualquer viabilidade económica que sustente o seu cultivo nesta zona do Peru. Existem duas variedades com boas produções em todos os campos que visitei, que são a koroneiky e a arbequina, principalmente a primeira, revelando produções constantes e abundantes, muito á semelhança daquilo que estamos habituados a ver nesta variedade em Portugal. A arbequina, com as reservas da avaliação "a olho", parece produzir um pouco menos que na europa. A picual, apresenta alguma produção, mas bastante inferior ao que estamos habituados. As restantes variedades (barnea, leccino, frantoio) , são para esquecer porque são absolutamente improdutivas. Árvores com volume para produzir acima de 40 kg de azeitona, produzem meia dúzia de azeitonas cada uma.